28 Março 2024, Quinta-feira
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Fernando Belo: «Vitória precisa de transparência e união para dar imagem externa mais positiva»

Nos últimos 25 anos, o engenheiro mecânico Fernando Belo, de 58 anos, exerceu várias funções no Vitória FC. Em entrevista a O Setubalense – Diário da Região, o antigo director do futebol de formação, vice-presidente e membro do Conselho Vitoriano fala sobre o passado e a atualidade do clube, apelando à união dos adeptos nas nove finais que a equipa principal de futebol tem pela frente na I Liga.

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Natural de Vila Fresca de Azeitão, o engenheiro, que é sócio do Vitória desde os 10 anos de idade, alerta para a necessidade estabilidade para atrair investidores. “O Vitória tem história, projecção, excelente localização por estar perto da capital, atracção turística e a paixão dos adeptos, no fundo tudo o que interessa aos investidores”, vincou Fernando Belo.

 

 

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De que forma o Vitória entrou na sua vida?

Entrou na minha vida quando era criança por influência do meu pai e do meu avô. Sou sócio do Vitória desde 1970, na altura tinha 10 anos de idade. A maioria dos azeitonenses não é vitoriana, mas os que lá há são muito bons e são grandes adeptos do clube.

Como surgiu a oportunidade de se tornar director da formação na década de 1990?

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Terminei o curso de engenharia e depois trabalhei no estrangeiro. Quando regressei o presidente era Manuel Aurélio e convidaram-me para director da formação, onde estive entre 1993 a 1996. Acompanhei a geração de ouro que tivemos nesse período.

Mais tarde esteve com Jorge Goes na SAD. Que balanço faz desse período?

No fundo, houve uma evolução em relação ao cargo que tinha antes. Em 1999/2000 entrei com Jorge Goes para a direcção e para a SAD. Tive sempre o pelouro do futebol porque tinha tido experiência como atleta na modalidade. O objectivo tanto no futebol profissional como de formação era permitir que o Vitória fosse um clube formador e que os nossos atletas da formação chegassem aos seniores.

Mais recentemente, depois de um interregno, voltou ao Vitória como vice-presidente de Fernando Oliveira. Como foram esses três anos?

Antes disso, estive como membro do Conselho Vitoriano na presidência de Chumbita Nunes, na altura em que o Vitória ganha a Taça de Portugal (2004/05). Mais tarde, fui vice-presidente nos mandatos de Fernando Oliveira. Devido à minha actividade profissional, no primeiro mandato era um ministro sem pasta, no segundo fazia alguma ligação entre a direcção e a formação do clube.

Em linhas gerais, de que forma olha para o actual momento do clube?

Vejo-o um bocadinho como vi na última Assembleia-Geral [n.d.r.: em que se procedeu à votação sobre o modelo de auditoria a implementar]. O Vitória precisa muito de transparência e união para dar uma imagem externa mais positiva. O Vitória continua a mostrar-se ao país como um clube onde não existe união nem estabilidade.

Preocupa-o mais as dificuldades desportivas ou de gestão?

Como todos os vitorianos, preocupa-me o momento desportivo. Desejo em meu nome e de todos os adeptos que a equipa esteja muito unida e contem com a nossa força para vencer as nove jornadas que faltam para somarem o número de pontos necessários para o Vitória se manter na I Liga.

Que explicações encontra para a quebra da equipa que está há 16 jogos sem vencer (14 deles no campeonato)?

Não há época nenhuma em que o Vitória não tenha um período menos bom. Apesar de tudo, nesta fase tem somando alguns pontos. Como não estou por dentro no clube, não posso dar uma explicação objectiva, mas parece-me que os plantéis da segunda metade da tabela são muito equivalentes. Por essa razão, o Vitória tem de estar muito unido para sair fora deste grupo e conseguir, o mais rápido possível, já na próxima época, se Deus quiser, estar na primeira metade da tabela.

 

«Há mais preocupação em atacar do que criar

condições para encontrar soluções para o futuro»

 

Conhece o agora treinador Sandro Mendes desde jovem. É o homem certo para levar a equipa a atingir o objectivo da permanência?

De certeza absoluta que sim. É uma altura crucial da época e temos todos de o apoiar e à sua equipa técnica e jogadores. Todos eles precisam de sentir o nosso carinho e força para vencerem a cada semana que aí vem. Tenho a certeza que as vitórias vão voltar, apesar de haver alguma impaciência que tem prejudicado a equipa. Já houve no passado momentos difíceis no clube e foi a massa associativa que ajudou o clube a recuperar. É isso que temos de voltar a fazer.

Se voltasse atrás seria defensor do projecto do Vale da Rosa, que foi defendido por Jorge Goes?

Não era o meu pelouro, mas nesse momento havia circunstâncias económico-políticas que beneficiavam projectos como esse e que outras cidades fizeram. O facto de a construção civil estar em crescimento era uma evidência. Nessa altura, os projectos tinham viabilidade económica e daí terem sido aprovados por várias entidades. No entanto, sou sincero tenho gosto em que o Vitória continue no sítio onde está. A economia e a história contribuíram para nos mantermos no Bonfim.

Fernando Oliveira esteve quase sempre sob ataque cerrado dos seus opositores. Que razões encontra para isso ter sucedido?

Na minha opinião, esse tem sido o problema do Vitória: as pessoas preocupam-se muito mais em atacar do que criar condições para encontrar soluções para o futuro. Fernando Oliveira foi um dos presidentes que ajudou, de alguma maneira, a estabilizar o Vitória que temos hoje. Não é um clube forte, mas manteve-se na I Divisão nos durante quase 10 anos.

E o que pode tornar o clube mais forte?

É importante percebermos que o futebol está a evoluir. Falar no passado é o que, infelizmente, ouvimos nas assembleias.

Chegou a trabalhar com Vítor Hugo Valente na presidência de Fernando Oliveira?

Não. Quando entrei nos mandatos de Fernando Oliveira, o presidente actual já não estava em funções.

Qual a sua opinião sobre o actual presidente?

Não o conheço pessoalmente e, por isso, não tenho opinião. O que sei é que todos os órgãos sociais do Vitória têm de dar uma imagem para o país desportivo e económico, em que incluo os grupos e empresas que podem investir no futebol, de que o dirigismo em Setúbal não é um pântano. É essencial que haja transparência.

 

«Vitória espoleta interesse no

mundo económico do futebol»

 

É a favor de uma auditoria às contas do clube entre 2000 e 2018, decisão que foi aprovada pelos sócios em Assembleia-Geral?

Apesar de ter um passado de que me orgulho no Vitória, tudo isso é já passado. O futebol vive-se no presente e o Vitória está a espoletar interesse no mundo económico do futebol. Por ser um clube com história, apesar das dificuldades económicas que tem, o Vitória é um clube que pode despertar interesse. Para ter capacidade para captar investimento, o Vitória tem de ter contas em dia e, por esse motivo, a auditoria pode ser uma ferramenta importante para isso. A auditoria é um instrumento que pode facilitar o futuro do Vitória e faz sentido que seja até à data mais recente possível. No fundo, o que se quer é que, quando alguém demonstrar interesse em investir, se possa mostrar números atuais. As pessoas não vão querer ver números de há quatro, cinco ou seis anos.

Tem conhecimento da existência de interessados em investir no Vitória?

Não sei. Só alerto que para haver interesse por parte do mundo económico ligado ao futebol, o Vitória tem de estar estabilizado e aí podem-se abrir oportunidades. Os dois maiores problemas são: haver um passivo grande, que traz algumas complicações, e a imagem que transparece para o exterior de haver um certo pântano dirigente porque ninguém se entende. No entanto, o Vitória tem história, projecção, excelente localização por estar perto da capital, atracção turística e a paixão dos adeptos, no fundo tudo o que interessa aos investidores.

Olhando para as assistências no Bonfim, que raramente atingem os 4 mil espectadores, acha que há um afastamento entre os setubalenses e o Vitória?

Não penso que exista um afastamento, mas um problema com o estádio, que tem poucas condições. Todos sabemos que os adeptos também se movem pelos resultados. Vê-se muita gente nova nas bancadas, mas as condições para atrair famílias aos jogos são muito poucas. Sei das dificuldades do Vitória e sei que para melhorar o estádio é preciso captar investimento. Podem dizer-me que também estive na direcção e não se arranjou nada. Porquê? Porque tal como agora dinheiro é prioritariamente para pagar outras coisas.

 

«Novos tempos não compatíveis

com lutas e guerrilhas de dirigentes»

 

O que tem de ser feito para atrair mais adeptos?

Além de melhorar as condições do estádio, que até pode ser reduzido nalgumas áreas tornando-o mais atractivo, se tivermos equipas mais competitivas, os adeptos vão em maior número ao estádio. Desejo que criemos condições internas, numa altura em que há grupos investidores a olhar para o futebol português e a adquirir participações em SAD’s, para que o Vitória não fique para trás. Se tivéssemos um estádio melhor, estaríamos noutra situação, de certeza absoluta.

Como vê o actual momento do futebol de formação?

Sei que estão a ser dados passos pela actual direcção para que a formação seja mais forte, inclusivamente ser certificada na formação, algo que já tinha acontecido na direcção anterior e que agora está a ter continuação. Estão a fazê-lo e muito bem. Caso contrário, o Vitória não teria hipóteses em atrair investidores, que pensam em clubes com tradição na formação.

Como sócio e ex-dirigente que mensagem deixa aos vitorianos?

Neste momento temos de estar todos unidos à volta dos jogadores, equipa técnica e direcção actual e apoiá-los para levar o Vitória a bom porto até ao final do campeonato porque é vital o clube manter-se na I Liga. Como dizia Fernando Pedrosa [histórico presidente do clube] na última AG: “o que estamos aqui a fazer tem alguma importância para ganhar os pontos ao Tondela? [adversário na jornada anterior]”. No fundo, em primeiro lugar, é isso que interessa agora: ganhar pontos a cada semana. Número dois: para continuarmos a brilhante história que tem de 108 anos de idade temos de compreender que os novos tempos não são compatíveis com lutas e guerrilhas de dirigentes. Não é por aí que vamos, tem de haver transparência e união de dirigentes.

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