19 Abril 2024, Sexta-feira
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História de 110 anos da Fábrica da Cortiça das Ermidas está prestes a acabar

As viagens de burro de José, os judeus na 2ª Guerra Mundial e o fecho de uma vida

O SETUBALENSE quis conhecer a história da fábrica de cortiça “Gonçalves e Douradinha, Lda”, situada Freguesia de Ermidas de Sado, Santiago do Cacém, fundada em 1910, e para isso falou com José Costa, neto do fundador.

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Foi há 110 que o algarvio José Costa Gonçalves se mudou para o Alentejo “num burro”. Fazia várias viagens entre o Algarve e o Alentejo, nas quais “recolhia bocados de cortiça desperdiçada” até que tomou a decisão de deixar o Sul, “e acabou por fazer uma fábrica de cortiça junto ao caminho-de-ferro em Ermidas do Sado”, explicou o neto José Costa. Anos mais tarde, continuou, “em sociedade com um judeu [chamado Shauman] teve um escritório em Lisboa onde exportava para todo o mundo”.

A unidade fabril destina-se maioritariamente à produção de rolhas, de aglomerados e de parquet, sendo que todos os pedaços de cortiça são aproveitados.

O neto do fundador herdou a fábrica, que passou de geração em geração. Trabalha como administrador, ainda ao lado do pai, Ernesto Costa. Porém, revelou em primeira mão ao jornal, que a probabilidade de a fábrica fechar é alta, “porque não há continuidade”. Assume que tem de se viver “um dia de cada vez”, não respondendo à hipótese de o novo proprietário continuar ou cessar funções. Admite que “não se pode viver à custa do Estado a vida toda, [sendo] também preciso iniciativa e capacidade de trabalho” e, portanto, o fecho nada tem a ver com a Covid-19. A população ainda não se manifestou porque “ não há confirmação, apenas uma previsão lógica do futuro a curto-médio prazo”, esclareceu o actual proprietário. José Costa não esconde a tristeza de ver a fábrica fechar portas para si e para outros 10 trabalhadores.

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O administrador da fábrica esclarece que uma da preocupações e problemas deste meio é “a seca que está a acabar com a produção de cortiça, tanto em quantidade como em qualidade, e a passagem da rolha natural para a rolha técnica”. No entanto, “nos últimos cinco anos a cortiça teve um pico de procura”, o que foi marcante. É sabido que hoje a cortiça é utilizada no artesanato e são vários os objectos e adereços que se fazem com o material. É hoje uma imagem e marca de Portugal. José Costa admite que “a técnica de preparação de cortiça” manteve-se sempre igual, independentemente da altura de funcionamento e que, “foram mais de 100 anos de crescimento”.

Como curiosidade, surge o facto de que, na altura da Segunda Guerra Mundial, em momento de exportações para os Estados Unidos da América, o avô e o amigo judeu ajudaram outros judeus a fugirem para esse destino. “Recebi há um mês uma carta de agradecimento de uma família de Judeus”, escrita pelo neto, conta José Costa.

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