28 Março 2024, Quinta-feira
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Um Príncipe Italiano na Aldeia Galega do Ribatejo

No dia 19 de Janeiro de 1669, o príncipe herdeiro Cosme de Médici (1642-1723), futuro Cosme III de Médici, Grão Duque da Toscânia, chega a Aldeia Galega do Ribatejo, com uma comitiva de cerca de 40 pessoas. Entre elas, encontravam-se Pier Maria Baldi, pintor florentino, Lorenzo Magaloti, cronista oficial desta viagem, e o Marquês Filipo Corsini, autor de uma outra relação da viagem.

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Na sua peregrinação a Santiago de Compostela, Cosme de Médici empreende uma viagem por Espanha e Portugal, com início em Florença, no dia 18 de Setembro de 1668, e que só iria terminar, na Corunha a 19 de Março de 1669. No seu percurso pelo nosso país, entra por Campo Maior, no dia 9 de Janeiro, e passa por Elvas (10/1), Vila Viçosa (11-13/1), Estremoz (13/1), Évora (14-15/1), Montemor-o-Novo (16/1), Landeira (17/1), Setúbal (18/1), Aldeia Galega (19/1), Lisboa (20/1-17/2), Vila Franca de Xira (18/2), Cartaxo e Santarém (19/2), Golegã e Tomar (20/2), Ansião (21/2), Coimbra (22-23/2), Mealhada (24/2), Grijó (25/2), Porto (26/2), Moreira e S. Pedro de Rates (27/2), Viana (28/2) e Caminha (28/2-1/3).
Ao longo deste percurso, Baldi desenha em 34 pranchas, a cinza ou a sépia, os locais onde a comitiva parou, no nosso país. Foi o caso de Aldeia Galega do Ribatejo, representada num dos desenhos de Pier Maria Baldi, o desenho nº 52, a mais antiga representação da actual cidade do Montijo, e hoje conservada, juntamente como os demais desenhos na Biblioteca Medicea Laurenziana de Florença (Med. Palat, 123 (1) disegno nº 52) – a Câmara Municipal de Montijo é detentora, desde o ano de 2000, de uma reprodução fotográfica de qualidade, requisitada a esta mesma Biblioteca de Florença, e existente no Arquivo Municipal do Montijo.
Este desenho, decorrente da viagem do príncipe florentino pelo nosso país, é já do conhecimento de todos nós e deixo para outra ocasião mais considerações. Hoje, gostaria de trazer ao vosso conhecimento as apreciações sobre Aldeia Galega, feitas em duas relações escritas sobre esta viagem, por outros tantos participantes: a “Relação Oficial da Viagem”, escrita por Lorenzo Magalotti (texto que se encontra junto aos desenhos de Baldi, na Biblioteca Medicea Laurenziana de Florença, com a cota de Med. Palat. 123); e os diários atribuídos ao Marquês Filipo Corsini, conhecidos por “Manuscrito Corsini”.
Seguimos a edição publicada em Madrid, em 1933, da responsabilidade de Angel Sánchez Rivero e Ângela Sánchez-Rivero, sob o título “Viaje de Cosme de Médicis por Espana y Portugal”, e onde estes textos são publicados, juntamente com os desenhos de Baldi.
Diz-nos o cronista oficial desta viagem, Lorenzo Magalotti, sobre a passagem de Cosme de Médici por Aldeia Galega do Ribatejo, no dia 19 de Janeiro de 1669:
“Dopo desinare partí il Principe Serenissimo per Aldea Gallega poverissima terra sua la sponda sinistra del Tago, di dove è l’ordinario traghetto per Lisbona; […] Da Setubal a Aldea Gallega 4 leghe di cammino per campagna piana, arenosa, vestita di macchia bassa e com frequentissimi pini“. (Viaje de Cosme de Médicis por Espana y Portugal (1668-1669), Madrid, 1933, p. 263-264).
Numa tradução literal, pode-se ler: “Depois do almoço partiu o Príncipe Sereníssimo para Aldea Gallega, terra muito pobre na margem esquerda do Tejo, onde está a passagem habitual para Lisboa […] De Setubal a Aldea Gallega 4 léguas a pé por campo plano, arenoso, com mato baixo e pinheiros frequentes”.
No “Manuscrito Corsini”, Aldeia Galega é referida assim: “Questo luogo é composto di circa 100 fuochi, da povera gente abitato, e la maggior parte Pescatori, per lo che e per esser giunti all’improvviso com poca comoditá ivi si stette…” (Idem, Ibidem, p. 264).
Tentando traduzir literalmente: “Este lugar é composto por cerca de 100 fogos, habitado por pessoas pobres, e a maioria deles pescadores, e pela pouca comodidade, não nos demorámos”.
Certamente, para quem vinha de Florença, como era o caso destes cronistas, Aldeia Galega do Ribatejo, uma povoação, na altura, com 430 habitantes, e onde apenas se deslocaram por ser ponto de “passagem habitual para a Lisboa”, nas palavras de um deles, nada tinha para seu deslumbramento.
A nós, impressionou-nos favoravelmente ter sido lugar de passagem de tão nobre comitiva e ter sido privilegiada com um dos 34 desenhos de Baldi de povoações portuguesas (apenas duas da margem sul do Tejo – Setúbal e Aldeia Galega).

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