26 Abril 2024, Sexta-feira
- PUB -
InícioOpiniãoOcorreu-me

Ocorreu-me

Ocorreu-me, assim do nada, que não valorizamos nada do que temos; até ao momento em que o perdemos.
Sim. Não é nada de novo. Acho que todos nós, em algum momento da vida, já chegámos a esta brilhante conclusão. Contudo, quantos de nós alterámos a nossa forma de estar por isso?
Não me estou a referir a alterações temporárias, como aquelas que fazemos enquanto nos dói; estou a falar em mudanças profundas. Quantos?
Concordarão comigo que, para a maior parte de nós, a reação que temos é semelhante à da ressaca. Afinal, todos aqueles que já abusaram – uma ou outra vez – da bebida – poucas vezes, com certeza – lembram-se daquela manhã horrível em que, enfrentando o carrasco travestido de sanita – os que tinham a sorte de lá chegar –, prometiam nunca mais beber uma gota de álcool. E todos nós sabemos o que aconteceu a essa promessa…
Por isso, é normal que nos vejamos, repetidamente, na mesma situação sempre que perdemos alguém que é importante para nós. Dizemos, então: «Tenho de mudar. Tenho de aproveitar cada segundo…». No entanto, o efeito ressaca leva-nos, quase sempre, a melhor e o resultado é o mesmo de sempre; até ao dia em que temos, em que a vida nos força, a tomar de novo consciência.
«Consciência de quê?», perguntarão.
Consciência de que o nosso tempo aqui, na superfície da Terra, é curto e está contado; o nosso, o teu e o meu, e o de todos aqueles com quem nos relacionamos. É nosso dever, e obrigação, dentro do que são os parâmetros das relações saudáveis, aproveitar, acarinhar e nutrir essas relações, dando o nosso melhor, sendo verdadeiros – sempre – e jamais fingindo o que quer que seja. Essa é a única forma de olhar quem parte; com saudade, com certeza, mas também com a paz que só a sensação de termos feito tudo aquilo que estava ao nosso alcance para tornar aquela relação única e boa pode dar…
Quantos de nós podemos ter a certeza de termos aquela paz, dentro de nós, quando o próximo momento chegar?
Eu não… É certo. Pois, também, eu, tenho de fazer este caminho.
E quanto a vós?
E pronto… Era isto que tinha para dizer; nem sei porquê: ocorreu-me…
E agora, sem pressões, vão. Não se esqueçam, contudo, que a única certeza que temos na vida é a morte, a nossa e a dos outros; e que – infelizmente, ou não – não sabemos quando é que ela virá. Por isso, cada segundo conta…
Está a contar!

PJ Vulter
Escritor do Montijo. Publicou «Marta», pela Coolbooks, em 2017. E publica regularmente no seu blog https://pjvulter.wixsite.com/pjvulter/blog.
- PUB -

Mais populares

Cavalos soltam-se e provocam a morte de participante na Romaria entre Moita e Viana do Alentejo [corrigida]

Vítima ainda foi transportada no helicóptero do INEM, mas acabou por não resistir aos ferimentos sofridos na cabeça

Árvore da Liberdade nasce no Largo José Afonso para evocar 50 anos de Abril

Peça de Ricardo Crista tem tronco de aço corten, seis metros de altura e cerca de uma tonelada e meia de peso

Homem de 48 anos morre enquanto trabalhava em Praias do Sado

Trabalhador da Transgrua estava a reparar um telhado na empresa Ascenzo Agro quando caiu de uma altura de 12 metros
- PUB -