23 Abril 2024, Terça-feira
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A “rentree”… e a nossa vida

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A “rentree”… e a nossa vida
Mário Moura - Médico
Mário Moura –
Médico

 

O mês de Agosto que agora termina é o período forte das férias (para quem as pode ter!), mês em que, em teoria, as famílias e as pessoas em geral têm o seu tempo de recuperação das forças e energias despendidas com o trabalho físico ou intelectual a que todos somos obrigados. E as aulas param, as repartições abrandam, os projetos param e a Assembleia dos deputados fecha, os políticos deixam os seus lugares e regressam às suas terras.

Mas no nosso “sistema” de vida a Terra não para de rodar e o tempo segue inexoravelmente, e as pessoas continuam a ter necessidade de comer, de tratar as suas maleitas, de viver e as regras da convivência social mantêm-se, e tudo tem de continuar a funcionar. Por isso a  “rentrée” no início de Setembro é uma invenção dos políticos para despertar para a realidade das lutas do dia a dia. E a vida social aumenta de ritmo e as festas e comícios  servem para apresentar programas  e fazer promessas de difícil execução, em geral. E a vida social é ativada pelo recomeço das aulas, com a colocação dos professores, a venda de livros e material escolar, e principalmente com a atividade dos políticos. E voltam aos noticiários as carências e os defeitos  da nossa organização social a par das promessas de solução apresentadas pelos políticos.  Mas a Amazónia continuou e continua a arder, os conflitos laborais aparecem de novo ás páginas dos jornais, o mar e o ar continuam a aquecer, os gelos a derreterem-se, os refugiados a procurarem local para viverem, os pobres continuam a aumentar  e – paradoxo – os milionários igualmente. As estatísticas e as contas parecem mostrar a formação de condições para o aparecimento de novas crises, e as bolsas alteram-se, e o capital globalizado treme e procura novos métodos para crescer, não vá a sua sustentabilidade ser ameaçada.

A realidade é que tudo parece indicar que o “sistema” é que está doente e necessita ser modificado, mas terá de ser rapidamente pois as alterações climáticas provocadas pelas produções intensivas disto e daquilo, pelo aumento dos automóveis e dos transportes de avião, pelo consumo sem método dos bens que a Terra nos dá, pelo aumento da poluição e – dos pobres e insatisfeitos –  parecem não dar tréguas. As juventudes começam a tomar consciência de que o seu futuro está ameaçado e agitam-se, e as guerras aqui e ali crescem, e a estabilidade do mundo treme igualmente com o desrespeito de acordos dificilmente alcançados, com o crescimento de populismos e regimes autoritários e com o crescimento de nacionalismos e a subida ao poder de pessoas como Tremp, Orban, Boris e outros senhores .

A situação é crítica pois dum lado estão os poucos que veem a gravidade da situação e do outro os que vão percebendo que os seus métodos parece não conseguirem manter os ritmos de crescimento dos lucros que nunca os satisfazem. A situação é crítica porque esses, assim ameaçados, controlam os que se sentam nas cadeiras do poder e não  se inibirão de tomar posições que não obedecem à solidariedade e à preservação da liberdade que tanto tempo demorou a ser conseguida, e no meio u8ma multidão de indiferentes.

E entre nós aproxima-se um período de eleições que começa precisamente com a tal “rentrée”, momento oportuno para se programarem as tais mudanças que são necessárias para que a nossa vida tome um rumo diferente. Por isso, depois das férias destes comentários, fazemos também a nossa “rentrée” apelando aos meus concidadãos que saiam da multidão de indiferentes e conformados e entrem na luta por um mundo melhor e mais consistente – é necessário que a política seja aproveitada para que se saia desta situação ameaçadora da nossa estabilidade e da melhoria da nossa “mãe terra”. E os que se dizem cristãos têm uma voz que os estimula à participação, a do Papa Francisco que não se cansa de apontar os defeitos do tal “sistema” em que vivemos e nos aponta o caminho certo – o da fraternidade .