20 Abril 2024, Sábado
- PUB -
Início Opinião O Serviço Nacional de Saúde (II)

O Serviço Nacional de Saúde (II)

0
O Serviço Nacional de Saúde (II)
Mário Moura - Médico
Mário Moura –
Médico

O primeiro Ministro da Saúde, se não me falha a memória, foi um político de Setúbal, Maldonado Gonelha, pois os assuntos da saúde eram detidos por uma secretaria de estado dependente do Ministério dos Assuntos Sociais. E para se ter chegado à organização atual decorreram alguns anos pois foi necessário implementar a formação de médicos e enfermeiros, foi necessário criar verdadeiras carreiras de clínica geral, de saúde pública e hierarquizar os médicos dos hospitais. foi necessário apetrechar os hospitais com aparelhagens modernas e construir centros de saúde – tudo numa cobertura da totalidade do território nacional.

E em boa verdade desde cedo se defrontaram os adeptos dum serviço nacional estatizado e os defensores de hospitais e clínicas privadas. Os médicos que exerciam a sua atividade no início tiveram de fazer atualizações nos chamados Institutos de Clinica Geral e o ensino das faculdades teve de se adaptar a novos métodos e disciplinas.
Nos Cuidados de Saúde Primários foi onde houve necessidade de maiores transformações na formação dos médicos pois teve de ser criada uma especialidade de clínica Geral que depois evoluiu para Medicina Familiar. A organização dos centros de saúde foi igualmente evoluindo para os atuais Centros de Medicina Familiar em que cada médico tem uma lista de 1500 pessoas a seu cargo.

Atualmente esses Centros fazem contratos com o Estado para exercerem determinadas tarefas sobre as quais serão avaliados o que se reflete no regime remuneratório. E a cobertura do país tem sido progressiva e ainda existem mais de meio milhão de pessoas sem médico de família. Em Setúbal (com Lisboa) é onde essa falta tem sido mais notória, no entanto nos últimos três anos mais de 66 mil pessoas adquiriram o seu médico de família.

É evidente que a competição do SNS com a medicina privada é intensa e esta tem vindo a crescer pois parece ser um negócio rentável. Nalguns pontos existe intensa colaboração, especialmente nas análises e noutros exames complementares, e até na execução de atos cirúrgicos.

Todos compreendemos que um Serviço Nacional de Saúde que cubra todos os cidadãos e todo o país custa imenso dinheiro e o aparecimento de novas terapêuticas e novos meios de diagnóstico e tratamentos constituem um constante sorvedoiro de dinheiros públicos, especialmente num país como o nosso com graves problemas de produtividade e com crónicos déficits.

E no atual período eleitoral ouvimos dizer que o SNS está decadente, antiquado, com falta de pessoal médico, de enfermagem e técnico e auxiliar – e é verdade, mas os governos vão fazendo esforços para acudirem a estes problemas que são o reflexo da globalidade dos problemas gerais do nosso país. No entanto este governo admitiu mais pessoal e permitiu que o número de atos médicos – consultas e cirurgias – aumentassem alguma coisa. Não podemos é permitir, em nossa opinião, que se criem dificuldades com o objetivo escondido de proteger o negócio da saúde. Um Sistema de Saúde pode bem englobar o SNS a ser complementado pela clínica privada e pelos seguros de saúde.
Não houve ainda a coragem para um investimento maior nos Cuidados de Saúde Primários onde é possível resolver cerca de 80% dos problemas que hoje enchem as urgências hospitalares, E até alguns meios de diagnóstico deviam poder ser feitos nos Centros de Saúde como análises de rotina, ecografias ou ECG.

E neles deviam existir psicólogos e outros técnicos especializados cujo auxilio tem de ser pago no privado.

Os nossos médicos e enfermeiros têm uma formação excecional e isso faz com que sejam atraídos para o estrangeiro onde têm melhores remunerações e ambientes de trabalho. É necessário que os governos pensem nestes problemas e não só em hospitais que, eu sei, são considerados pelo público em geral como a pedra fundamental dum Serviço de Saúde, o que não é bem verdade.

Os rastreios, a educação para a saúde, a vacinação, os cuidados paliativos e o atendimento domiciliário deviam ser desenvolvidos deixando para os hospitais os casos que tornem necessário o internamento, mas a relação afetiva do paciente com o médico faz milagres!