26 Abril 2024, Sexta-feira
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O alívio de uns, na consciência de outros

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O alívio de uns, na consciência de outros
António Guerreiro - Autor literário
António Guerreiro –
Autor literário

 

Eu tenho no trio, crianças, idosos e animais, os mais frágeis da sociedade, a oportunidade quotidiana de praticar para com a vida e o que ela me dá, o exercício da gratidão.

Nas crianças eu agradeço o futuro, a fé, a esperança e o Sol do sorriso e da alegria que dá cor à vida. Delas, recebemos a continuidade da nossa luta por uma melhor sociedade. Protege-las, é talvez o mais gratificante dever social!

Aos idosos devo o que somos. Os alicerces a onde finco os meus pés, a onde bebo o saber deixado. E dar-lhes o meu braço para que se apoiem e atravessem uma rua, aliviar-lhes o peso das compras ou ajudar no entendimento de um tempo que tem dificuldade em acompanhar, é uma honra que o meu ser, ligeiramente mais jovem, sente agradecido.

Os animais, … bem os animais são o meu calcanhar de Aquiles! Amo e vivo com alguns a que chamo família, trato e protejo os que posso. A eles, agradeço a oportunidade diária da sensibilidade humana, que o corre-corre do dia a dia, dentro delas, fora, com ou sem as máquinas, horas e horários, tempos, estresse e compromissos, me embrutece e quer, no pragmatismo frio da subsistência social, anular.

Dia quatro de outubro foi o dia do animal. Do que vive livre, selvagem e ainda sobrevive, e do que o foi um dia e já perdemos. Daquele que nos alimenta, do que nos ajuda e do que em nossa casa nos recebe com aquele olhar tão só seu, e ingenuamente desconhecendo o dia que tivemos, corre para nós, querendo, qual verdadeiro amigo, nem que seja à força nos fazer feliz. Pulando, roçando-se, ganindo, miando ou ronronando e obrigando àquela atenção que nos faz tão bem dar-lhe, e que só quem os “atura “, entende. Mas é também o dia dos que vitimas, jazem estendidos no meio da estrada e nos fazem sentir mal sem sentir culpa. Dos que foram um dia engraçados e depois indesejados, e ao seu jeito, tão sem fingimento, tão sem o saber como, puros, genuínos, mostram a sua fome abandonados pelas ruas. Rondando os caixotes do lixo, suplicando como conseguem, que uma mão igual à que um dia os afagou, lhes dê agora algo que comer. E é a quem para eles, por vezes tirando do pouco que a reforma lhes reserva, estende essa mão, nela levando o que podem e tantas vezes, por tal incompreendidos e criticados, que hoje escrevo este texto. Dedico-o, no dia dos seus protegidos, a todos os que aliviando a culpa, daqueles a quem o valor de uma chamada telefónica por dia, alguns dias de ferias, ou apenas porque tal como o casaco que saiu de moda, por eles perderam interesse, os abandonam na rua, e na consciência de quem os trata: aliviam a sua.

Pois, bem hajam!