20 Abril 2024, Sábado
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O verbo…

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O verbo…
Mário Moura - Médico
Mário Moura –
Médico

 

Assunção Cristas saiu de cena…”. “Isabel dos Santos vende as suas ações….”, “ O Porto perdeu com o Guimarães….” – nestas frases da atualidade aparece uma palavra em negrito que é, sabemos da escola, gramaticalmente o VERBO, e que este verbo representa sempre uma ação, isto é, o verbo é algo de dinâmico, que significa movimento: sair, vender, perder. nestes exemplos.

Ora o Papa Francisco dedicou o passado domingo à Palavra de Deus e os sacerdotes nas missas dedicaram as suas homilias à Palavra de Deus, e dos  Profetas que anunciaram a vinda de Jesus ou dos Evangelhos em que os apóstolos relatam pormenores da vida desse mesmo Jesus, onde se diz que o Verbo se fez carne, isto é, que Deus se fez homem, que  Deus incarnou em Jesus. Podemos portanto verificar que o Verbo é Deus, e que portanto Deus  nos aparece como algo de dinâmico,  nada estático, mas movimento, ação, criação.   Assim a Palavra de Deus nos incita sempre à ação e assim o Papa Francisco nos pede constantemente “uma Igreja em saída”, uma Igreja “hospital de campanha” que se arma aqui ou ali onde os homens necessitam de ajuda e de apoio, nos pede que não cristalizemos  em atitudes e regras do passado, que sejamos arautos do Amor para com os pobres, os doentes e todos os excluídos da nossa sociedade. Por isso se fala na necessidade de respeitar a cultura de cada povo e que corrijamos muito do que fizemos no passado em que levámos o Cristianismo sempre envolvido nos nossos costumes e repudiando as culturas locais. Alem de se cometer esta “agressão” aos costumes dos povos que se queria cristianizar ainda se levava uma Igreja cristalizada em preceitos e regras estabelecidas como imutáveis há muitos séculos.   Agora que chegámos a uma sociedade modificada com grande velocidade, século após século, década após década, pela ciência, pela tecnologia, pela evolução económica e política, agora que vivemos numa sociedade individualista, que se desloca a grandes velocidades, que comunica com um toque instantâneo numa tecla, que recebe a noticia dum acontecimento quase instantaneamente, agora que vivemos numa sociedade globalizada e – pior que tudo isto – numa sociedade ameaçada na sua estabilidade , ameaçada de perder a curto prazo as condições de habitabilidade para todos nós, a posição e as atitudes de quem se sente mobilizado para difundir a Palavra de Deus tem de atender a esta exigência dinâmica do VERBO.     E mais: o Povo de Deus , os fieis e os seus ministros, tem de ser dinâmico, tem de ser impregnado deste dinamismo, e  tem de ser muito democrático, nada elitista, nada funcionalizado, mas muito próximo daqueles a quem quer passar a PALAVRA para contribuir para as construção duma sociedade feliz, igualitária, o mais próxima do Reino de Deus, aqui e agora.  Escrevia há dias num jornal, Frei Bento Domingues, a propósito da democraticidade no povo de Deus, e a quem peço vénia parta transcrever – “O tratamento de reverendo e reverendíssimo, de eminente e eminentíssimo significa que abandonámos o tratamento de irmãos proposto por Cristo e o trocámos por vaidades humanas “, e lembrava que até os apóstolos pensavam no “poder” e não no “serviço”!!

Mas voltemos à PALAVRA e ao VERBO, para  lembrarmos que e Palavra é alimento para quem a lê, especialmente nesta época em que a leitura da palavra escrita vai sendo trocada pelos toques nas teclas do telemóvel, do smartfone ou do computador, em que até contra a Palavra (e a ação) do Papa Francisco se torna notória uma oposição de quem continua agarrado à rigidez das antigas regras e estruturas cristalizadas no tempo e por isso totalmente desadaptadas das atuais realidades das nossas sociedades.

E não nos esqueçamos que o VERBO é sempre AÇÃO !!   A Assunção Cristas vai mesmo sair, a Isabel dos Santos vai mesmo vender e o Porto perdeu mesmo !….