26 Abril 2024, Sexta-feira
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Sinais preocupantes

Começavam a chegar em meados de Agosto e a maioria partia até ao final de Outubro. Vinham aos milhares. Os primeiros a arribar, eram os picanços-reais. Depois seguiam-se as felosas, os rouxinóis, as senteriças, os trinchais, os piscos de asa branca ou taralhões, os piscos de papo amarelo e por fim, as pitinhas e as alvéolas mais popularmente conhecidas por arvelas. Os piscos de papo amarelo, as pitinhas e as arvelas, ficavam por cá até quase ao Natal.

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Morei durante parte da minha infância e a adolescência no Zambujal de Sesimbra, onde a miudagem e também muitos graúdos se dedicavam nessa altura do ano , a armar aos pássaros. Fazia-mo-lo com ratoeiras de arame e formiga de asa como isco. Para os piscos, pitinhas e arvelas, também dava o bicho(lagarta) do milho ou das raízes de catacuzes.

Toda esta passarada aparecia a partir do Cabo Espichel, chegando até, pelo menos, ao concelho do Seixal. Soube-o, quando já adulto, vim morar para a Cruz de Pau e desde a Quinta da Atalaia onde se situa hoje a Festa do Avante, até ao Talaminho, ainda eu e o meu irmão Cristóvão, apanhámos muitos.

Já agora, convém dizer que entre o Zambujal e a Cruz de Pau, morei com os meus pais e irmãos, em Coruche. E nasci no Alentejo. Portanto, “naturalmente”, também fui aficionado. Mas evolui e já há muito que sou contra as touradas e nem uma lagartixa mato, quanto mais aqueles tão coloridos e inofensivos visitantes que embelezavam os campos da região referida e não só. Mas, tradicional e culturalmente era assim. E naqueles tempos de barriga do povo tantas vezes a dar horas e em que carne só lá entrava em dias de festa, infelizmente , apanhar os inocentes passaritos,era para nós, entusiasmante e um reforço alimentar.

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Toda esta conversa para quê? Para dizer que nos últimos 10, 12, 15 anos, essas pequenas aves de arribação, migratórias, quase já não se vêm. Durante a época passada, vi apenas algumas arvelas e um pisco. Um único pisco de papo amarelo. Portanto, são sinais preocupantes. Muito preocupantes mesmo. São ciclos da Natureza que se quebraram ou estarão prestes a quebrar-se. Com certeza ,devido às alterações climáticas a que as atividades humanas, como se sabe, não são alheias, ao uso excessivo de pesticidas, a explorações agrícolas intensivas, etc.

Ainda agora começámos a pagar bem caro esta investida do maldito coronavírus, pelo menos que aprendamos qualquer coisa com ela. Que respeitemos bem mais a Mãe Natureza para que, a par de tantas outras espécies já extintas ou em vias disso, a nossa não siga o mesmo caminho. Para já, segundo os entendidos, devido à paralisia de muitas industrias, da redução drástica dos transportes terrestres, marítimos e aéreos e de outras atividades poluentes, a redução do dióxido de carbono para a atmosfera, é de 1 milhão de toneladas por dia.

Veremos se os ciclos da Natureza voltam ao normal neste magnífico planeta azul. A nossa casa comum e de todas as restantes espécies que devemos respeitar.

Francisco Ramalho
Professor, Corroios
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