25 Abril 2024, Quinta-feira
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Dicas para a Coragem. Covid-19, a humanidade em busca de sentido

Como fundadora da Academia da Coragem nunca imaginei que a palavra coragem alguma vez se transformasse numa necessidade tão premente a nível mundial.

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Também nunca imaginei viver um momento histórico em que voltariam a estar tão atuais, de forma tão acutilante, as palavras de Viktor E. Frankl – O homem em busca de um Sentido (1946). A situação que vivemos, para além de todas as crises que nos traz (as crises financeira e económica globais, a crise financeira individual e familiar, a crise de saúde pública, a crise científica, a agudização da crise dos refugiados), transporta-nos, também, para uma crise de sentido, ou, melhor dizendo, para uma crise de falta de sentido. O Covid-19 veio obrigar-nos a repensar tudo aquilo que considerávamos ser as nossas certezas, a nossa segurança financeira, a nossa resiliência, a nossa capacidade de aguentar, a nossa Fé, e, sobretudo, a nossa segurança ontológica: a segurança relativa à nossa própria vida e à capacidade de a mantermos.

A tomada de consciência da nossa vulnerabilidade existencial

Esta pandemia veio gerar à humanidade níveis extremos de vulnerabilidade existencial. De um dia para o outro, sentimos na pele, mesmo não estando num campo de concentração, como Viktor Frankl (1946-49), quão frágil, afinal, é a nossa Existência. Quão vulneráveis, afinal, podemos ficar de um momento para o outro, em resultado de algo desconhecido, vindo, sabe-se lá de onde. De um dia para o outro, damos conta que o mundo mudou e que nós, só temos salvação se, mudarmos com ele. Mas esta não se trata de uma mudança adaptativa tranquila ou suave. Ao contrário! É como a adaptação a uma onda gigante. Ninguém está preparado para ela!

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Este vírus está a obrigar-nos a contactar com partes de nós que diariamente não ouvimos: a incerteza, a insegurança, a vulnerabilidade, a fragilidade, a angústia, o medo. Intrinsecamente sabemos que todos estes aspetos existem. Mas há uma enorme diferença entre o que sabemos existir e o que sentimos. No dia-a-dia, somos mais que humanos. Temos de correr! Temos sempre outras prioridades. Não temos tempo. Não podemos parar! Temos de render. Temos de aguentar. Porque tudo depende de nós. Ou assim fomos preparados para acreditar.

O Vazio e o Caos

Esta pandemia veio também fazer com que contactemos de forma diária e constante com o vazio e caos! Porque a verdade é que de repente a ordem natural das coisas alterou-se por completo. A vida mudou. A dinâmica deixou de existir, as ruas estão vazias, os restaurantes estão fechados, os cafés não abrem, os bares, os cinemas, os centros comerciais, a ida às compras, deixam de ser a solução para abafar a angústia existencial.

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Ninguém nos ensinou a viver no vazio, a não sabermos exatamente o que fazer quando algo que damos como certo deixa de o ser.

E com este vazio, ao contrário do que seria de esperar, instala-se o caos. Porque afinal, deixámos de saber o que esperar, o que fazer ou o que pensar. E isso gera medo. E o medo leva-nos a açambarcar tudo o que podemos, pois, amanhã não sabemos se ainda o conseguimos fazer. Se as coisas continuam a funcionar. Talvez não. Talvez seja melhor prevenir. Aguentar as filas para comprar, mesmo que isso signifique aguentar umas horas ao frio, ou ao sol, ou seja lá o que for.

O paradoxo de lutar para dentro

Ficar quieto. Imobilizar. Ficar em casa. Toda esta dinâmica exige ao nosso cérebro uma capacidade paradoxal: a capacidade de lutar para dentro!

Sempre nos disseram para irmos à luta, para guerrearmos, para nos superarmos. Mas as nossas batalhas estavam sempre lá fora! Ir trabalhar. Ter sucesso. Aguentar até ao fim do mês. Liderar. Alcançar objetivos. Gerir a agenda. Dominar o cansaço. Esquecer o stress. Comer a correr. Ou nem sequer ter tempo para isso. Seguir sempre, mesmo quando não aguentávamos mais!

Esse foi o modelo da nossa educação. Um modelo, que temos agora de abandonar. Porque agora, a batalha, não nos pede para irmos lá para fora guerrear! A batalha agora pede-nos que regressemos a casa. Pede-nos para olharmos para dentro. Algo que não estamos habituados!

Coragem para acreditar no melhor perante o pior  

Então, em termos de Coragem, trata-se neste momento de conseguirmos colocar as coisas em perspetiva e definir limites saudáveis ao nosso cérebro, para além dos limites físicos à inter-relação humana que devemos manter uns com os outros.

Trata-se de proteger as nossas emoções e aumentar a nossa capacidade de resistência interna ao stress psicológico. Trata-se de lidar com o isolamento, a tristeza e a confusão de forma positiva e até criativa. Trata-se de olhar para tudo aquilo que já superámos ao longo da nossa vida! Trata-se de olhar para o pior na esperança de que de todo este caos, dor e angústia, só o melhor poderá surgir.

Trata-se de conseguir focar a nossa mente e os nossos pensamentos, na saúde, na cura, nas soluções, na melhoria diária de todos os que neste momento estão a sofrer com esta pandemia a nível mundial.

Trata-se de aceitar que talvez esta paragem forçada nos trará alguns benefícios. Talvez conseguir abrandar nos permita ver o que é verdadeiramente importante. E quem sabe, se aquilo que é verdadeiramente importante seja algo que nós já temos, mas que, por ser adquirido, já não valorizamos.

Forçar os limites do conforto e do conhecido

Estamos a viver algum descrédito relativamente à nossa capacidade de superação. Talvez isso seja uma das razões que nos levam a furar as cintas sanitárias e a tentar contrariar algumas regras de isolamento estabelecidas. No fundo, estamos a tentar resistir a cair no total desconhecido, estamos a tentar resistir para manter a todo o custo a noção que conhecemos de conforto, da realidade como ela deve ser: normal. Estamos a tentar ter algum controlo, sobre o que de todo podemos controlar.

No entanto, o paradoxo de lutar para dentro, de viver no interior da nossa casa e de nós mesmos, exige uma capacidade talvez nunca vivida: a capacidade de forçar os limites do conforto e do conhecido. A capacidade de oferecer pouca ou nenhuma resistência às normas e regras impostas para salvaguardar a nossa existência. Esta capacidade de forçar os nossos limites sem medo de fracassar, sem desacreditar, leva à superação, à criação de novas possibilidades. E esta é a via para superar o medo daquilo que não conhecemos.

Criar um estado emocional saudável

O potencial do cérebro humano é imenso. Podemos sair dos buracos mais profundos só por acreditar que é possível. As emoções que sentimos não devem ser reprimidas. São legítimas! Mas devem ser negociadas! Devemos assumi-las como naturais e definir o que fazemos com elas. Se é medo que estamos a sentir, o que significa esse medo para nós? Será que sentir medo nos salva? Será que é útil? Se usarmos o medo para manter o isolamento social, sim. É uma emoção útil e deve ser preservada. Mas se usarmos o medo para colocar os outros em pânico, para partilharmos informação nas redes sociais que apenas convoca mais medo, então devemos usar a nossa Inteligência Emocional e não o fazer. E assim acontece com todas as outras emoções, como a angústia ou a desesperança.

Somos capazes

Acredito, porque já vivi o vazio e a carência (de pessoas e de recursos financeiros), o caos e o medo (de não sobreviver física e emocionalmente), que somos capazes de dar a volta por cima! Talvez valha a pena olharmos para o que, apesar de tudo, a nossa vida tem de bom agora. O resto, tenho a certeza, com a ajuda de Todos, conseguiremos resolver. Somos mais fortes do que aquilo que podemos pensar. Somos mais fortes que este vírus! Não que as palavras valham de muito. Mas talvez nos ajudem a acreditar e a focar no melhor, ao invés de termos a nossa mente focada no pior.

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