26 Abril 2024, Sexta-feira
- PUB -
InícioOpiniãoUma oportunidade para falar da ignomínia da prostituição

Uma oportunidade para falar da ignomínia da prostituição

Uma Reportagem sobre as condições da prostituição passou na televisão há poucos dias. A atualidade do tema tem que ver com mais uma Petição entrada no Parlamento que pretende a legalização da prostituição e a despenalização do lenocínio, alterando o artigo 169º do Código Penal. Desta vez, a primeira peticionaria é uma mulher, jovem, mãe de dois filhos, que diz ter duas Casas de Mulheres onde as prostitutas estão de livre vontade e de quem recebe 50% do que ganham por dia. Estamos, como ela se designa face a uma empresária do sexo e perante uma prática de lenocínio, punível pela lei portuguesa. Note-se que a atividade da prostituição não é crime em Portugal, como insidiosamente se faz crer.

- PUB -

Foi uma Reportagem bem feita, aberta ao contraditório, e muito útil. Pôs a descoberto o mundo difícil e negro das mulheres que entram na prostituição. Um mundo que importa desvendar e não dourar. É arrepiante ouvir as histórias. As várias intervenientes contaram suas experiências de viva voz. Como entraram e sonharam sair. Como mantém o sonho de ter uma família e sair deste mundo. Umas, dizem que a princípio foi difícil, mas habituaram-se. Aprenderam a fingir. A mentir. A defender-se, face aos sempre imprevisíveis encontros. Para todas, foi a única porta aberta quando se viram sós, sem emprego, sem salário, abandonadas e violentadas, incapazes de manter uma renda de casa, alimentar e garantir a subsistência dos filhos. Desesperadas e em pânico, sós, cheias de dívidas, prestes a perder tudo. Com infâncias sofridas e humilhantes, fragilidades ao longo da vida, privações económicas no limite. Vivendo no pântano da miséria, viram na prostituição a saída.

Curiosamente, as entrevistadas reconhecem que “infelizmente” entraram muito jovens e querem “evitar que suas filhas venham a entrar”. Mulheres que dizem que “ninguém está nisto porque quer”, que “é muito perigoso” e, mesmo reconhecendo toda a violência, calam-se porque não querem que lhes tirem os filhos. Dramas imensos.
Por estas razões, é hipócrita defender a legitimação da prostituição na base do consentimento pois que o consentimento /aceitação esconde uma tradição de opressão das mulheres que, todavia, perdura.

Um fenómeno tão “antigo como o mundo”, diz-se, para se pensar que é inelutável. Porém, foi a luta dos povos que acabou com a pena de morte, a escravatura e nestes tempos a nossa esperança é acabar com as múltiplas violências que tanta tinta e lágrimas fazem correr. Ligado muitas vezes ao tráfico de seres humanos, o crescimento dos mercados da prostituição com mulheres, crianças e menores de idade, é um negócio transnacional altamente rentável e cujas redes atuam também perigosamente no nosso país.

- PUB -

Reforçar a luta contra a legalização do lenocínio e aumentar a participação na recusa desta petição é um desígnio cívico dos nossos dias. Pela igualdade e os direitos humanos, torna-se agora ainda mais imperativo que o Governo se obrigue a tomar medidas concretas de prevenção e proteção das mulheres e a estabelecer programas que lhes permita deixar a prostituição, com os apoios de inserção e protecção social adequados.

Não é de mais referir que a prostituição é uma Violência e que estas mulheres correm um ainda maior risco de violência e danos. Para elas não há programas específicos. A grande maioria sofreu violência antes de entrar na prostituição, por violação, incesto ou pedofilia. São conhecidas as queixas de stress e outros desequilíbrios e o relato de processos mentais de grande gravidade.

A prostituição anda de mãos dadas com a pobreza e a necessidade de angariação de meios de subsistência. Não é admissível, para quem luta pela igualdade, justiça social e desenvolvimento humano, permitir que a intimidade e a sexualidade possam ser os meios de subsistência de qualquer ser humano. A prostituição é incompatível com a dignidade da pessoa humana e com os seus direitos fundamentais, plasmados na nossa Constituição a que o Código Penal se subordina.

- PUB -

A Reportagem da Patrícia Lucas no Linha da Frente não deixa mentir. Escancara uma realidade a que não podemos ficar indiferentes. Nem nós como cidadãs e cidadãos, nem o Estado, nem o Governo, que está obrigado a cumprir todo o nosso ordenamento jurídico. Por parte do Movimento Democrático de Mulheres, aliaremos a nossa acção para que jamais o negócio da prostituição engrosse as receitas dos empresários e das empresárias do sexo com a violência e a exploração sobre as mulheres.

- PUB -

Mais populares

Cavalos soltam-se e provocam a morte de participante na Romaria entre Moita e Viana do Alentejo [corrigida]

Vítima ainda foi transportada no helicóptero do INEM, mas acabou por não resistir aos ferimentos sofridos na cabeça

Árvore da Liberdade nasce no Largo José Afonso para evocar 50 anos de Abril

Peça de Ricardo Crista tem tronco de aço corten, seis metros de altura e cerca de uma tonelada e meia de peso

Homem de 48 anos morre enquanto trabalhava em Praias do Sado

Trabalhador da Transgrua estava a reparar um telhado na empresa Ascenzo Agro quando caiu de uma altura de 12 metros
- PUB -