19 Abril 2024, Sexta-feira
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Dia dos Namorados em tempo de pandemia e não só

Não se conheciam há muito quando começaram a trocar mensagens. Tinham 15 anos, estudavam na mesma turma. Todos os amigos diziam que ficavam bem juntos. A pandemia aproximou-os. Partilhavam vídeos e fotografias, falavam horas por mensagens, partilhavam inseguranças e vontade de estarem juntos a sério, sem máscaras, sem medos.

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Ao fim de umas semanas, ele pediu-lhe que lhe enviasse umas fotos bonitas dela. “Com menos roupa…” pedia. “Tens de confiar em mim Alice, certo?”. “Agora sem roupa, vá…tens vergonha de quê?”. “E um vídeo teu, eu explico-te como quero”. “Anda lá…estou aqui sozinho, ou preferes que procure outras a fazer o mesmo na internet, afinal é de ti que eu gosto”.

Alice pensou, falou com duas amigas, tentou perceber se era mesmo assim que se namorava agora. Não tinha experiência afinal. As amigas riram, sim era o normal. Todos os rapazes ao fim de pouco tempo pediam fotos sem roupa às raparigas, mesmo às de que não gostavam assim tanto. Faziam coleção disseram-lhe. Trocavam as fotos e vídeos entre eles e quando as raparigas deixavam de fazer o que eles queriam, às vezes ameaçavam que iam colocar as fotos e vídeos na internet, outras vezes passavam para a seguinte. “Tem cuidado”, disse-lhe uma delas, que já tinha tido uma foto sua nua a circular pelas turmas do 12º ano. “O que envias deixa de ser teu…e não o conheces assim tão bem”.” Diz-lhe que precisas de tempo, que preferes que ele te veja ao vivo, sem câmaras. Se ele gostar realmente de ti, espera”.

“Sim, vou dizer-lhe isso. Não me sinto confortável em enviar-lhe fotos e vídeos meus nua. Obrigada.”

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E assim fez. Ele não lhe respondeu mais e bloqueou-a nas redes sociais todas.

Tomás, era o rapaz com o melhor coração da Faculdade. Todas as raparigas o achavam interessante para namorar. Mas ele não parecia reparar muito. Até que um dia viu a Joana a chorar depois de uma aula. Queria ajudá-la. Joana disse: “eu reajo muito mal quando as pessoas me rejeitam. Não consigo lidar com isso”.

“Eu nunca te vou rejeitar”, disse-lhe o Tomás. E começaram a namorar nesse mesmo dia.

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Veio a pandemia. Joana enviava-lhe mais de 100 mensagens por dia: “Gostas de mim?”, “Não me vais abandonar?”, “Tenho a certeza de que vais encontrar alguém melhor do que eu”, “Estás a fazer o quê?”, “Eu não consigo viver longe de ti”. Ao fim de algum tempo, já não sabia lidar com ela, nem o que responder. Qualquer resposta era mal-interpretada: “Dizes que gostas de mim só para me calar, tu és igual aos outros todos”, “Quem são essas tuas amigas do Facebook?”, “Porque não respondeste à minha mensagem?”.

De dia para dia, Tomás entristecia, até que falou com um Professor de Psicologia, depois de uma das aulas online. O Professor explicou-lhe que algumas pessoas nunca conseguem confiar inteiramente no que os outros dizem e que a Joana precisava de ter apoio profissional, antes até de ter um namorado. Tomás recomendou esse apoio à Joana, disse-lhe que agora isso era o mais importante e deixou de responder às mensagens.

Alice e Tomás são aqui nomes fictícios de muitas histórias reais de namoros pouco saudáveis. Se não te sentes bem no teu relacionamento, fala com amigos, com família, com um professor ou com um psicólogo. Não te feches, não tentes resolver tudo sozinho. A violência no namoro afeta raparigas e rapazes, e pode ter muitas outras faces que não são a violência física. O controlo, o ciúme, a chantagem, a falta de respeito pela tua vontade, são por vezes os primeiros sinais. Cuida bem de ti e Feliz Dia dos Namorados.

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