26 Abril 2024, Sexta-feira
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Feministas porquê?

Tudo começou em 1824 quando as operárias de Rhode Island abandonaram os seus postos de trabalho em protesto contra os cortes salariais. As movimentações de operárias continuaram ao longo do século XIX e inícios do século XX. Em 1908, a Marcha do Pão e das Rosas juntou 15 mil mulheres nas ruas de Nova Iorque. Denunciavam a exploração e exigiam igualdade económica e política, nomeadamente o direito ao voto. Em 1917, a 8 de Março, as trabalhadoras russas encabeçaram uma greve geral contra a fome, a guerra e o czarismo.

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Em 1975, 65 anos depois de Clara Zetkin ter proposto, no II Congresso da Internacional Socialista na Dinamarca, a instituição de um dia a nível internacional, para lembrar a situação particular das mulheres na sociedade, o dia 8 de Março é finalmente consagrado pela ONU como Dia Internacional das Mulheres. Portugal, recentemente saído de uma ditadura, comemorou também em 1975, pela primeira vez, o Dia Internacional da Mulher em liberdade.

Esta é, de forma muito resumida, a história que marca o início da luta das mulheres por melhores condições de trabalho, mas sobretudo, por liberdade e igualdade. Quase dois séculos depois vejamos onde estamos:

Apesar de serem a maioria no ensino superior e a maioria dos diplomados, as mulheres permanecem minoritárias nas profissões com níveis de qualificação e remuneração mais elevados. São residuais nos cargos de liderança e de tomada de decisão política. Na Assembleia da República representam 40% dos deputados. Mas se olharmos para as autarquias, nas eleições autárquicas de 2017, em 308 municípios, apenas 32 mulheres foram eleitas para a presidência das Câmaras municipais. Em 46 anos de democracia e 22 governos constitucionais as mulheres permaneceram a minoria e os homens a esmagadora maioria.

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A disparidade salarial mantém-se em torno dos 16%. Considerando todos os trabalhadores por conta de outrém em todas as empresas, as mulheres ganham menos 149€ por mês de remuneração base do que os homens e em termos de ganho total, recebem menos 225€ por mês. São 1800€ e 2700€, respetivamente, a menos por ano.

A desigualdade salarial aprofunda-se à medida que aumentam os níveis de qualificação. Nos trabalhadores com ensino superior a desigualdade salarial dispara para os quase 30%. Na reforma, ascende aos quase 40%.

A feminização da precariedade contribui para esta disparidade salarial e para a persistente menor autonomia das mulheres. São também as mulheres as mais vulneráveis à pobreza e exclusão social.

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As mulheres entraram em força no mercado de trabalho, mas continuam “donas de casa” e a desigual partilha das tarefas domésticas e dos cuidados com os filhos mantém-se.  Estima-se que sejam precisos ainda 180 anos para que se reverta esta realidade. As responsabilidades familiares, sempre mais pesadas para as mulheres, condicionam obviamente sua disponibilidade para a participação cívica e política.

O mapeamento da persistente condição de subalternidade das mulheres na sociedade ficaria incompleta sem referência às formas mais abjetas de violência contra as mulheres e sem lembrar as mais de 500 mulheres assassinadas em contexto de relações de intimidade desde que em 2004 se recolhem dados, ou as perto de 30 mil participações anuais de violência doméstica, ou o facto de uma em cada três mulheres ser vítima de violência física ou sexual durante a sua vida, ou ainda o consistente aumento do crime de violação e abuso sexual.

Estas são consequências da opressão secular de um sistema patriarcal que teima em subalternizar as mulheres – porque lhes serve os interesses – mantém e fomenta os estereótipos de género que condicionam escolhas educativas e profissionais, a desigualdade salarial e a segregação nos cargos de chefia e liderança. Convive com a subrepresentação das mulheres nos cargos de tomada de decisão política, a desigual repartição na partilha das tarefas domésticas e nos cuidados com os filhos, promove a feminização da precariedade, da pobreza e da exclusão social.

Naturaliza o assédio e a intimidação das mulheres no trabalho, na escola, no espaço público. Desculpabiliza a exploração sexual, o assédio e a violação. Desvaloriza a violência doméstica e no namoro que resulta tantas vezes na morte de tantas mulheres. Despreza as múltiplas discriminações que sofrem as mulheres com deficiência, as migrantes, as racializadas, as lésbicas ou as mulheres trans.

Feministas porquê?

A resposta não podia ser mais simples: feministas porque defendemos a liberdade e queremos uma sociedade onde a igualdade entre homens e mulheres, entre todas as pessoas seja, finalmente, a norma.

 

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