24 Abril 2024, Quarta-feira
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“O Mercado da Lota vai ter tanta qualidade como o do Livramento”

‘Mercado do Rio Azul’, é assim que se chama o novo mercado da lota que reabre no dia 31, após mais de um ano de obras que custaram cerca de 350 mil euros

 

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Prestes a inaugurar o talvez maior investimento de sempre da União de Freguesias de Setúbal, o presidente da Junta fala sobre os principais temas do presente e futuro do território que é quase meia-cidade. Defende que o estacionamento tarifado é positivo para os bairros, que o plano urbanístico da zona ribeirinha não cedeu aos interesses económicos e que a junta está a dar conta do recado na limpeza urbana.

 

 

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Que balanço faz deste ano de mandato?

É um mandato de confirmação do que começámos no primeiro mandato. Ainda é altura de consolidar, atendendo que temos um executivo novo e com alguns membros novos, e também de continuar a aceitar mais descentralização que a Câmara Municipal quiser desenvolver connosco.

Que consolidação?

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Por exemplo, o Centro Comunitário de Anunciada, que tem 600 utentes, foi criado há um ano, e em 2019 criar o de S. Julião, para que todas a freguesias tenham o seu polo do centro comunitário. Começámos pelo que herdámos na Freguesia da Santa Maria e aprofundámos com este modelo da Anunciada, que tem um conjunto de parcerias, porque queremos trabalhar outras instituições e associações e é nessa sequencia que criámos o Conselho Local de Parceiros.

Pretendemos criar a Comissão Social de Freguesia porque são dois instrumentos muito importantes de ligação aos agentes do terreno e, neste caso, às estruturas de Acção Social.

 

O polo de S. Julião terá dimensão idêntica?

Não. Será mais pequeno. Ainda não temos o espaço porque há poucos disponiveis e a preços exorbitantes. Queríamos no Bairro do Liceu que é onde reside grande parte dos idosos da Freguesia de São Julião e onde a presença do movimento associativo é diminuta.

 

Como está a execução das competências descentralizadas passado um ano de contrato? A Junta está a cumprir, por exemplo na limpeza urbana?

Sim, mas a higiene e limpeza é uma área em que nunca se pode dizer que está tudo bem, até porque não é igual ao longo do ano. Temos o período da folha, depois as chuvas que trazem detritos, no Verão há outro tipo de lixo e duplica o número de pessoas. Ao longo do ano tem de haver soluções diferentes e meios diferenciados.

 

Mas  acha que a cidade está limpa? Estou a lembrar-me da Fonte Nova.

Há sempre zonas críticas, a limpeza não é igual em todo lado,  e temos um plano que nos permite saber exatamente quantas vezes cada rua é limpa por mês. Há zonas que são limpas todos os dias, como a Rodrigues Manito, o Troino, a Fonte Nova. A Praça do Brasil e as quintas do Tavares e do Freixo são limpas dia sim dia não.

Tivemos que admitir pessoal e adquirir máquinas, num investimento de 220 mil euros em quatro anos. Não tínhamos armazéns, entretanto fizemos instalações em Vanicelos, alugámos um outro espaço na Anunciada, e estamos em vésperas de alugar outro maior para a brigada central porque temos uma oficina, um conjunto de coisas que fazemos nós próprios, e não temos as condições.

No nosso território, a operação descentralizada cobre cerca de 70% o que é muito bom. 100% no caso das escolas, 80% nos espaços verdes e 70 % na varredura. É bastante satisfatório.

 

O Mercado da Lota leva mais de um ano de obras, quando estavam previstos três meses.

No final do mandado de 2013, a ASAE fechou o espaço, que obrigou na altura a junta a fazer um investimento de 30 mil euros em tempo recorde para que o mercado não fechasse porque eram mais de 60 as famílias que viviam dali.

Quando dissemos que eram três meses não era nesta obra que estávamos a pensar. Pensávamos complementar a obra que a Anunciada já tinha feito e resolver os problemas apontados pela ASAE para se poder reabrir. Mas entretanto encontrámos problemas muito graves, desde logo o telhado. Antes obra poder começar, foi necessário convencer a APSS, proprietária do espaço, a reparar o telhado.

Só depois foi possível mexer e, à medida que fomos avançando – com o apoio dos técnicos municipais – a obra que seria pouco mais que uma lavagem, passou a ser um mercado completamente novo. Fizemos uma obra muito maior, que está avaliada em mais de 300 mil euros. A Junta pagou mais de 200 mil euros e, além desse valor, tem o custo de 150 mil euros, porque grande parte do trabalho, como partir o chão e picar as paredes, foi feito pelos nossos trabalhadores.

 

Que mercado vamos encontrar agora?

Tudo novo, desde a parte dos esgotos, calhas técnicas, canalizações, as 48 bancas novas, que custaram 85 mil euros, portas, incluindo as interiores que o mercado não tinha.

 

O desafio agora é disciplinar o funcionamento.

Exactamente. Tivemos muita preocupação com os comerciantes, para não pararem a actividade montámos o mercado provisório, mas também dissemos que este mercado tem novas regras. Há um regulamento que vai ser aprovado na Assembleia de Freguesia que é bastante exigente nas normas de higiene e na conduta dos comerciantes. Algumas pessoas saíram e temos a certeza que o novo Mercado do Rio Azul – é assim que se vai chamar – não tem nada a ver com o antigo.

Reabre no dia 31, às 10h, quinta-feira, com animação que vai decorrer até sábado. A promoção continua na semana seguinte.

 

Não vão faltar comerciantes?

Não. Pelo contrário. Esperamos que se afirme pela qualidade do peixe, frutas e hortícolas. e que as pessoas venham ao mercado. Algumas não iam devido à higiene e nós queremos que voltem. Esperamos que seja um espaço agradável que venha valorizar Setúbal, e não igual ao Mercado do Livramento mas com o mesmo nível de qualidade.

 

Uma das grandes marcas da União de Freguesia é o “Fest’Asso”, a festa com as coletividades. Como vai ser este ano?

Todos os anos é diferente. Há uma comissão organizadora, que juntamente com a Junta, desenvolve o projecto, todos sabem quais são as receitas e as contas são prestadas às associações.

Consideramos o “Fest’ Asso” um dos melhores eventos de Setúbal, num local espectacular e com cada vez mais turistas a participar.  A cidade está cada vez mais bonita e nós temos muita preocupação com todos os aspectos. Hoje, os meios que estão no espaço são todos da Junta, não dependemos da Câmara a não ser a cedência do espaço e da corrente eléctrica – que já é agradável.

A festa tem-se afirmado e este ano vamos melhorar a componente que criámos há dois anos, a “Amostra Associativa”, em que as colectividades fazem demonstrações das suas actividades.

O Coral Infantil de Setúbal traz os miúdos a cantar, a Academia Luísa Todi traz a patinagem, e por ai fora, para mostrar o que fazem. Achamos que esta componente é tão importante quanto as tasquinhas e estas contribuem para a receita das associações. O evento custa custa 30 mil euros e metade é do orçamento da Junta.

 

Como vê as alterações urbanísticas que a Câmara preconiza para a zona ribeirinha, designadamente o aumento da densidade de construção?

Setúbal entrou num caminho de desenvolvimento que torna a cidade mais apetecível para quem cá mora e para quem investe. É natural que o apetite económico aumente e nós temos de saber que cidade queremos no futuro. Uma zona ribeirinha desenvolvida, apetecível para os setubalense e para quem vem de fora, mas que, simultaneamente conserve todas as riquezas que temos, como a pesca.

O plano, pelo que conheço, é equilibrado. Não foi atrás de propostas que o tecido económico fez, algumas megalómanas, e resolve problemas como as muitas zonas devolutas e mal-aproveitadas que ainda temos. Prevê qualificação para que seja uma zona de excelência da cidade, mas sem descaracterizar e sem entrar em loucuras. Têm de haver equilíbrio entre os interesses urbanísticos e a identidade da cidade.

 

E sobre o estacionamento pago. A proposta aprovada é boa?

Acho que sim. Têm-se feito alarido sem sentido. A Câmara fez um estudo sobre a mobilidade e o estacionamento na cidade faz parte, mas não é isolado. Há um conjunto de outras medidas, nomeadamente a criação de uma rede de transporte público cada vez mais efectiva, parques periféricos…

 

A mancha prevista para os bairros da União de Freguesias parece-lhe equilibrada?

O estacionamento pago é à medida que haja condições, que passam por obras que têm que ser feitas. As pessoas confundem o carro em cima dos passeios com estacionamento. Mas, para tarifar vão ter que organizar o estacionamento. Na Rodrigues Manito, está previsto um conjunto de obras porque a avenida tem menos de um terço dos lugares que precisa.

O estacionamento tarifado possibilita a rotatividade. Agora, na Quinta do Freixo, por exemplo, às 7h30 há pessoas dentro dos carros à espera que os moradores saiam para ficarem com o lugar, depois estacionam e o carro fica parado o dia inteiro.

A Praça do Brasil, Avenida da 5 de Outubro e Bairro Salgado são outras zonas com este problema. Há moradores que vêm ter connosco a pedir para que se tarife. No Jardim da Algodeia foi a Junta que indicou o espaço para o parque já criado.

 

E que também vai ser tarifado.

É uma proposta das pessoas. Mas só quando as obras estiverem feitas. Vamos ter outro parque público por trás do Convento de Jesus, para mais de 200 viaturas, que vai desobstruir muito o Montalvão.

Para os moradores há um cartão a 10 euros. É claro que a segunda viatura paga 70 euros, mas são valores por ano. Estive em reuniões com moradores e ninguém fez propostas de outros valores.

Há um empolamento em relação à questão do dinheiro. Mas temos que criar outras formas de mobilidade, que passam pela bicicleta e por transportes públicos condignos. Temos uma rede de urbanos dos anos 70, ou pior porque há 40 anos havia autocarros de 15 em 15 minutos e à noite. Hoje depois da 21h30 já não há autocarro. Como é que as pessoas podem desfrutar do centro da cultura, vir a um espectáculo à noite?

Precisamos de investimento nesta área, e a Câmara Municipal aderiu ao plano metropolitano de transportes e vai contribuir com dois a três  milhões de euros. É muito dinheiro e isto vai mudar radicalmente.

 

Como tem funcionado a geringonça com o PSD na Assembleia de Freguesia?

Não há geringonça. Há o respeito pelos votos dos setubalenses. O povo é soberano, deu uma vitória folgada a CDU, crescemos 1500 votos e distanciamos-nos do segundo partido cerca de 1900 votos. Quer dizer que as pessoas não viram no PS alternativa.

Neste mandato, a presidência ser do PSD não tem qualquer problema.

Todos os documentos essenciais à gestão da junta foram aprovados com votos apenas da CDU, mas também apenas só com um voto contra, do CDS.

 

O PSD diz que o presidente é pouco reivindicativo com a Câmara.

Não. O presidente da Junta coloca as perguntas que tem que colocar. e mais do que se pensa, e até de forma incisiva, não tem nenhuma posição de subserviência nem de contestação pura à Câmara. Temos um trabalho de parceria.

 

A Junta governa três freguesias há cinco anos. A experiência aconselha a manter a união?

O PCP apresentou um projeto-lei que a decisão seja das freguesias e das populações. Não há reposição automática. Nunca governei freguesias senão em união e este executivo talvez seja o principal “culpado” das pessoas terem uma boa opinião e acharem que a união funciona.

 

O PCP vai ter dificuldade em encontrar um candidato para substituir Dores Meira?

Qualquer partido teria essa dificuldade. Estamos a falar possivelmente da melhor presidente da Câmara de Setúbal de sempre, de uma autarca que deixa uma obra invulgar, que é substancialmente querida pelas pessoas, de uma pessoa que, se não houvesse limitação de mandatos, estaria em condições de continuar por mais tempo. E penso que seria isso que os setubalenses gostariam.

A CDU têm um património de trabalho em Setúbal e não vai afrouxar até ao ultimo segundo do mandato. Isso deixa perspetivas para o futuro da cidade, uma estrutura municipal cada vez mais preparada e o uma cidade melhor.  Penso que será condição suficiente para que a CDU encontre uma outra pessoa e uma equipa que possa dar todas as garantias para a continuação do projeto e que com certeza vai merecer a confiança dos setubalenses.

 

PERFIL

Setubalense e autarca vermelho, verde por dentro

Setubalense nascido na Avenida Luísa Todi, Rui Canas, tem 56 anos “acabadinhos” de fazer, no dia 13. O que ficou por fazer foi o Comunicação Social, pendurado apenas por duas cadeiras, desde que se meteu nas andanças autárquicas.

O gosto pela “nobre função” política, começou logo aos 13 anos. Delegado de turma no liceu, presidente da associação de estudantes na Comercial, participou na primeira manifestação logo no dia 26 de Abril de 74, dia seguinte à Revolução. Gritou, com outros alunos do Ciclo Pr eparatório do Bocage “fora o director!”, que era o professor Maurício Costa. Anos mais tarde, ganhou consciência das coisas e da forma de ser da pessoa, de quem se feza amigo, e passou a quase gostar dos “calduços”. Na escola Sebastião da Gama iniciou-se no jornalismo, no teatro, com Luís Aleluia, Fernando Casaca e outros.

Nos anos 80 esteve na direcção nacional da JCP, passou pelos Verdes, e a ecologia levou-o ao “Setúbal Verde”, grupo que deu origem à Quercus e por onde passaram Viriato Soromenho-Marques, Miguel Maldonado e Francisco Ferreira. Esteve na luta contra a incineração e a sensibilidade pelo ambiente continua. Profissionalmente trabalhou na cultura, foi empresário de produção de eventos e comunicação.

Após a adesão ao PCP, em 84, passou pelas organizações locais de Palmela e Setúbal até chegar a autarca na Freguesia da Anunciada, como presidente da assembleia, em 2001. Preside à União de Freguesias, há cinco anos. Apesar de já governar boa parte da zona urbana da cidade, recusa falar sobre a possibilidade de um dia ser presidente de câmara.

 

Foto: Alex Gaspar

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