Ex-colega de Amélia Fialho lembrou pergunta suspeita de Iúri à saída da esquadra montijense, logo após ter sido feita a participação do desaparecimento da vítima
Uma colega e amiga da professora Amélia Fialho assassinada no Montijo em Setembro de 2018 disse ontem que os problemas com a filha adoptiva da vítima iniciaram-se quando Diana Fialho começou a namorar com Iúri Mata.
“No início, quando a menina veio para casa via-as muito felizes, tinham uma cadela e adoravam-na. Quando a Diana começou a namorar com o Iúri, do que tenho conhecimento, foi quando começaram os problemas”, testemunhou Maria de Sousa, na segunda sessão do julgamento, no Tribunal de Almada.
Diana Fialho e Iúri Mata estão acusados pelo Ministério Público (MP) pelos crimes de homicídio qualificado e profanação de cadáver.
De acordo com a professora reformada, ex-colega de Amélia Fialho, foi a arguida que lhe deu conta do desaparecimento da mãe adoptiva, tendo inclusive aceite a ajuda para ir à PSP do Montijo formalizar a queixa.
“Lembro-me do Iúri me perguntar: ‘se ela tiver mesmo desaparecido como é que chegamos às coisas dela?’ Naquela altura fiquei triste. A Diana estava presente, mas não consegui ver o rosto dela, nem se fez algum gesto. Caiu-me a ficha, eu numa situação daquelas estaria a chorar”, referiu.
Neste depoimento, Maria de Sousa contou também que Amélia Fialho decidiu adoptar uma criança para ter alguém “a quem deixar o que tinha”.
Neste sentido, a mulher confirmou que a vítima tinha o testamento em nome de Diana Fialho, mas quando a filha saiu de casa, em 2014, “alterou ou pensou em alterar” o documento.
Psiquiatra lembra depressão de Iúri
Nesta sessão, também falou a psiquiatra de Iúri Mata, Maria Esteves, que foi consultada pelo arguido em 2016, quando estava com uma “depressão intensa” devido a problemas com o pai e pressão nos estudos.
“O pai [de Iúri] tinha manifestações psicóticas e com um tipo de depressão grave podia manifestar-se, mas na altura não. Quadros psicóticos eu não vi”, frisou.
Os restantes cinco testemunhos nesta sessão, familiares ou amigos do arguido, manifestaram que Iúri era uma pessoa “simpática, sociável e estudiosa”.
“O meu filho era a pessoa mais amiga do seu amigo, era o primeiro a apaziguar em situação de conflito. Se fossem precisas mais testemunhas vinham muitas mais”, sublinhou Orlanda do Carmo, a mãe do arguido, que acabou por se emocionar. A sessão prossegue na parte da tarde, pelas 14h00, para ouvir a última testemunha.
O julgamento iniciou-se em 4 de Julho e ambos os arguidos remeteram-se ao silêncio, apesar de o advogado de Iúri Mata ter esclarecido que o seu cliente não estava em condições de o fazer “por esta sob efeito de forte medicação”.
Segundo o despacho de acusação do MP, os arguidos “gizaram um plano para matar Amélia Fialho, de 59 anos, e, ao jantar, colocaram fármacos na bebida da vítima que “a puseram a dormir”, tendo desferido “vários golpes utilizando um martelo”, causando a morte da professora.
Após o homicídio, relata a acusação, os arguidos embrulharam o corpo e colocaram-no na bagageira de um carro, deslocando-se até um terreno agrícola, em Pegões, no Montijo, onde, com recurso a gasolina, “atearam fogo ao cadáver”.
A última sessão do julgamento está marcada para sexta-feira, pelas 14h00, momento em que também serão proferidas as alegações finais.
Foi em 7 de Setembro de 2018 que a filha adoptiva e o genro da vítima foram detidos e presentes a tribunal, o qual decretou a medida de coacção de prisão preventiva. A arguida está no Estabelecimento Prisional de Tires, enquanto o homem no do Montijo. Lusa
Diana Fialho e Iúri Mata falaram pela primeira vez
A fase final da audiência de ontem ficou também marcada pelo depoimento de Diana Fialho e Iúri Mata, que falaram pela primeira vez em julgamento, respondendo a algumas perguntas sobre o relatório social.
Apesar de o advogado do arguido ter voltado a informar que o seu constituinte “não estava em condições [de falar], nem se lembrar da [presente] data”, Iúri Mata conseguiu responder a todas as perguntas do juiz, indicando os locais onde trabalhou, vencimentos e quem o tem visitado na prisão.
Já Diana Fialho deu conta que teve “internamento psiquiátrico aos 14 e aos 18 anos”, primeiro devido à “grande depressão pelo falecimento da avó” e, mais tarde, por não “estar a conseguir tirar o curso”, passando a tomar medicação até aos 20 anos. “Tinha muito boa relação com a minha avó. Passei muito mal porque era com a minha avó que eu passava mais tempo, a minha mãe estava sempre a trabalhar”, referiu.
Lusa