20 Abril 2024, Sábado
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Bispo de Setúbal fala de uma celebração diferente mas cheia de sentido e esplendor

Na sua mensagem de Páscoa, nesta época marcada pela pandemia da Covid-19, o do Bispo de Setúbal, José Ornelas Carvalho, considera que a situação em que vivemos “não deve fazer desvirtuar o valor e a finalidade” da maior festa do ano para judeus e cristãos. Pelo contrário, considera que é em situações como esta que o sentido da Páscoa se revela em “todo o seu esplendor”.

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Apela mesmo a que, este ano, façamos com que a “Páscoa do Coronavírus”, na sua celebração, “não seja apenas a estatística das vítimas e dos desastres económicos que provocou, mas que fique na nossa memória e daqueles que nos hão de suceder, como Páscoa de libertação de antigos ódios e quezílias, para uma terra de maior justiça, dignidade e esperança responsável para todos”

Celebrar a Páscoa da libertação, do amor e da vida

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Celebramos, este ano, a Páscoa no meio de grandes perturbações e cuidados, que envolvem as nossas famílias, a sociedade e a Igreja, no mundo inteiro. Esta é uma situação altamente desafiadora para toda a humanidade, que veio alterar os hábitos de todos, também no que diz respeito ao modo de celebrar esta que é a maior festa do ano para os judeus e os cristãos.

Mas nem por isso, a situação que vivemos deve fazer desvirtuar o valor e a finalidade da Páscoa. Pelo contrário, é em situações como esta que a importância e o sentido desta festa se revelam em todo o seu esplendor.

Antes de mais, a Páscoa é, nas nossas culturas, uma das mais antigas festividades da humanidade, que celebrava o recomeço da vida, na natureza e nas atividades humanas, altamente condicionadas pelo frio e perigoso inverno. É, por isso, a celebração da vida, da alegria, da esperança, anunciando que cada crise apela a uma superação, cada noite anuncia o surgir da luz da aurora, cada tristeza cria o desejo de nova alegria, cada morte é um grito de sede da vida. Essa ambivalência não anula a celebração da festa, mas dá-lhe valor e sentido, proclamando e criando esperança e caminho, no esforço de superação dos dramas da humanidade.

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Na tradição judaico cristã, a Páscoa está originalmente ligada à libertação da escravidão e da humilhação, e ao caminho, sempre árduo, de unir as pessoas, e de criar uma pátria de liberdade e dignidade para todos. A nossa Páscoa tem como protótipo a libertação do povo de Israel da escravidão do Egito. Aí, Deus revela-se como salvador, libertador e defensor do seu povo. Este ato fundacional da fé, será sempre tornado possível por Deus, mas através de Moisés e dos que, nesta terra, foram rasgando o caminho para a liberdade e a dignidade. Será uma festa celebrada em cada família, todos os anos, como memorial recriador dos valores e da energia da fé no Deus libertador e criador da justiça, da fraternidade e da paz, mesmo nas situações mais dramáticas da história.

Foi esta festa que Jesus celebrou com os seus discípulos – a sua nova família, proveniente de todos os povos da terra – dando-lhe um caráter mais radicalmente libertador. Ele passou a vida prodigalizando sinais de saúde, de reconciliação e de vida, e anunciando que é possível superar conflitos, guerras, egoísmo e ódios que destroem as pessoas, as famílias e a humanidade. Por isso, entregou-se totalmente à construção desse mundo e encarou, com amor e coragem, a recusa, a perseguição e a morte. Mas o seu projeto não acabou: Ele ressuscitou, dando novo sentido à libertação, e abrindo novo caminho e novos horizontes à esperança e à vida.

Ele diz-nos que, quando parece que as crises deram cabo do mundo e da vida social que tínhamos, outros caminhos, outras formas de relação, de economia e de organização são possíveis, emendando muitos erros dos velhos caminhos a que estávamos habituados. Ele mostra que, quando parece que os nossos planos e sonhos saíram frustrados pela crise, novos horizontes e novas soluções vão aparecendo, a partir de pessoas e valores que subestimávamos, fortalecidos pelos esforços criadores que usámos para ultrapassar as dificuldades. A sua vida, morte e ressurreição mostram que, mesmo quando parece que a vida está a acabar, esta apenas a começar e a abrir-se ao amor poderoso do Pai do Céu e Criador de toda a humanidade.

É esta a Páscoa que nós celebramos, neste ano e nestes tempos de pandemia, que certamente vão marcar esta geração e ficar para a memória futura. Façamos que a “Páscoa do Coronavírus” não seja apenas a estatística das vítimas e dos desastres económicos que provocou, mas que fique na nossa memória e daqueles que nos hão de suceder, como Páscoa de libertação de antigos ódios e quezílias, para uma terra de maior justiça, dignidade e esperança responsável para todos. Esse é o sonho que Deus sonha connosco e o desafio que nos propõe, para não nos resignarmos ou deixarmos desanimar pelas dificuldades presentes, como se fosse o fim de tudo. Ele, até a morte, abriu à vida!

Feliz Páscoa da libertação, do amor e da vida!

+ José Ornelas Carvalho
Bispo de Setúbal

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